Guia dos EUA ataca a culinária brasileira, enumerando as 37 ‘piores comidas’ e chefs se revoltam; confira a lista completa

O TasteAtlas, um guia online que se propõe como referência em viagens culinárias experimentais, oferece receitas, críticas de pratos e artigos sobre ingredientes e comidas tradicionais de diversas culturas.

No entanto, uma crítica recorrente ao site é a falta de estudo sobre a história dos pratos antes de avaliá-los. Esse tipo de opinião, quando amplamente divulgado, acaba influenciando o público brasileiro de maneira inadequada, o que não deveria acontecer.

A chef Roberta Sudbrack aponta que essa avaliação é mais uma prova do desconhecimento das riquezas culturais do Brasil, ressaltando que a lista não reflete a maneira com que os brasileiros se relacionam com a comida e como isso está intrinsecamente ligado à nossa identidade.

— Nas palestras que dou pelo mundo, sempre falo que o Brasil é completamente diferente de outras culturas. Temos uma riqueza enorme de ingredientes, formas de preparo, de pensar, de interagir e de viver a nossa cozinha — explica.

Bolo formigueiro e cortes tradicionais como acém, paleta e lagarto não agradaram nas 7.456 avaliações feitas até setembro, resultando na lista das 37 piores comidas do Brasil. Para chefs especializados em culinária brasileira, essa lista reflete a falta de sensibilidade cultural, visto que para eles, o gosto está diretamente ligado à cultura, algo que foi desconsiderado pelo TasteAtlas.

— Não consegui terminar de ver a lista. Foi vergonhoso e de uma falta de cultura absurda. Isso é algo risível. E não estou falando de como isso me afeta diretamente, mas para entender o cuscuz paulista, por exemplo, você precisa ter estado aqui, ter conhecido minimamente as tradições e se interessado pelos tantos ‘brasis’ dentro de um Brasil — destacou Sudbrack.

O chef Thiago Castanho, um dos maiores defensores da culinária paraense, também criticou a lista. Ele destacou a importância de pratos como a maniçoba, iguaria típica da sua terra natal.

— Esse tipo de lista gera engajamento, principalmente ao falar mal. Cria discussões e até uma polarização aqui dentro do Brasil, sendo que quem fez a lista foi alguém de fora. Não tem relevância e não acrescenta nada. Isso não desperta o interesse pelos pratos, pelo contrário, afasta. A maniçoba, por exemplo, tem uma cultura riquíssima por trás, que mistura traços indígenas, africanos e europeus — explica.

Outro prato criticado foi o tradicional sanduíche de mortadela, marca registrada do Mercado Municipal de São Paulo, que apareceu em 18º lugar com 3,7 estrelas. Para William Loureiro, comerciante de quarta geração responsável pelo Bar do Mané, onde o sanduíche é servido, a lista não deve ser levada a sério.

— Quem vem aqui nunca se arrepende. Claro que todos têm o direito de não gostar, mas recebemos gente do mundo todo, inclusive chefs renomados, e nunca ninguém reclamou. Respeitamos o TasteAtlas, mas isso não faz sentido — afirmou Loureiro.

Na página em que divulgou a lista, o TasteAtlas ressalta que não detém a verdade absoluta. O site afirma que suas preferências são baseadas em uma base de dados composta por mecanismos que reconhecem usuários reais, ignoram avaliações de robôs ou locais nacionalistas, e valorizam as opiniões de usuários considerados “conhecedores”.

Essa rejeição ao patriotismo parece ter influenciado a avaliação, que ignora contextos culturais importantes para a existência dos pratos.