Leite é inflamatório? Nutricionistas esclarecem mitos e verdades
Especialistas explicam os mitos e verdades sobre um dos alimentos mais presentes na dieta do brasileiro.

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O leite é parte do dia a dia do brasileiro, seja no café da manhã, em receitas ou no tradicional copo gelado. Segundo dados da Embrapa, o consumo per capita do alimento atingiu em 2024 seu maior índice em 20 anos: 189 litros por habitante, contra os 131 litros de 2004.
Apesar da presença constante na mesa, uma dúvida ganhou espaço nas redes sociais e nos consultórios: afinal, o leite é inflamatório?
Leite é o “vilão”?
Para a nutricionista Carolina Nobre, que atende no centro clínico Órion Complex, em Goiânia, a ideia de que o leite é inflamatório ganhou força principalmente por conta de conteúdos superficiais publicados na internet.
“É comum ver pessoas produzindo posts rápidos, com frases de impacto, mas sem aprofundar o tema. A verdade é que não existe um consenso de que o leite cause inflamação. Cada organismo reage de forma diferente, e o contexto alimentar é o que realmente importa”, explica.
Segundo a especialista, o problema não está em um único alimento, mas no padrão de consumo. Uma rotina rica em industrializados, embutidos e produtos ultraprocessados, sim, pode criar um ambiente propício para processos inflamatórios no corpo. Nesse cenário, o leite, isoladamente, dificilmente seria o responsável.

Gráfico mostra uma visão do consumo de leite no Brasil. Foto: Centro de Inteligência do Leite
Intolerância, alergia ou inflamação?
A nutricionista Yumi Kuramoto, também do Órion Complex, reforça que é essencial diferenciar condições como intolerância à lactose e alergia à proteína do leite de vaca (APLV).
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APLV: o sistema imunológico identifica proteínas do leite, como a caseína, como invasoras, desencadeando uma reação inflamatória. Quem tem APLV precisa eliminar completamente o leite animal e seus derivados.
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Intolerância à lactose: ocorre quando o corpo não produz lactase suficiente, enzima responsável por digerir o açúcar do leite. Nesse caso, existem alternativas, como leites e derivados sem lactose, que permitem manter o consumo com segurança.
Ou seja, não é correto generalizar. Para muitas pessoas, o leite continua sendo um alimento nutritivo, rico em cálcio, proteínas e vitaminas, com papel importante em uma dieta equilibrada.
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Tecnologia como aliada
O diretor geral da Marajoara Laticínios, Vinícius Junqueira, explica que o processo de envase do leite UHT sem lactose preserva os nutrientes originais. Durante a produção, é adicionada a enzima lactase, que quebra a lactose em glicose e galactose, permitindo que pessoas intolerantes consumam o alimento sem desconforto.
“Não há alteração no valor nutricional. A tecnologia garante segurança e mantém os benefícios do leite, mesmo para quem tem intolerância”, afirma Junqueira.
O debate sobre o leite ser inflamatório revela mais sobre a necessidade de informação de qualidade do que sobre o alimento em si. Para especialistas, o importante é compreender as particularidades de cada organismo e, em casos de sintomas, buscar orientação médica e nutricional. Longe de ser um vilão, o leite segue como um dos protagonistas da alimentação brasileira, adaptando-se às necessidades de cada consumidor com novas opções, como os produtos sem lactose.